quarta-feira, 13 de setembro de 2017

HORA DO BRASIL

Dia desses, durante um percurso razoável de automóvel, onde o pen drive emperrou e o cansaço começava a apresentar um de seus mais perigosos sinais, apertei a tecla radio pretendendo seguir viagem alerta, bem informado, ouvindo as principais notícias ou até uma boa música dentre as muitas opções existentes hoje no dial (só para lembrar dos velhos tempos onde a sintonia era encontrada pelo ponteiro indicador). Mas, para infelicidade dos ouvidos e, principalmente, do cérebro, como eram 19 horas e nem o programa "Você Sabia?", da Rádio Relógio, existe mais, deixei o aparelho ligado e segui a vida tentando escutar a "Hora do Brasil" (A Voz do Brasil), aquele programa apelidado de "o fala sozinho" que, desde 1938, ocupa um horário nobre passando informações na maioria chapa branca - com feitos do governo, muitas vezes mentirosos  e sem credibilidade- discursos e entrevistas com o que tem de pior, atualmente, isto é, o conteúdo e personagens oriundos da política nacional. Uma chatice só, com audiência pífia, sem falar no aspecto borolento do programa que continua imposto e com moldes só encontrados em países de regimes fechados e ditatoriais como China, Cuba e Coreia do Norte. Sua existência, para muitos, é necessária - e imposta - pois abrange todo o território e a rádio ainda é um veículo popular onde todos, de alguma forma, recebem informações sobre o que de mais 'relevante' acontece. Só que não é bem assim pois a 'relevância' diz respeito a eles, ao grupo político que precisa mostrar serviço e quem ouve aquilo, de segunda a sexta, das 19 as 20 horas, de norte a sul, chova ou faça sol, faz parte de sua clientela. A tal da conveniência. O Brasil, que vem sofrendo vários abalos em sua saúde financeira (só o governo insiste em negar), inclusive pelas emissoras de rádio, não deve insistir em anacronismos como a transmissão de programas como estes que fazem a audiência despencar e o mercado publicitário investir em televisão, publicações impressas, internet, etc., provocando mais prejuízos e causando estragos no restante da programação. Sem falar que contraria a liberdade de imprensa assegurada pela Constituição de 1988. Existem vários projetos tramitando na Câmara sobre mudanças na lei que obriga a transmissão, entre eles um que permite escolher o horário mais conveniente, entre 19 horas e meia-noite, para iniciar a veiculação do programa (desde já, sugiro que o transmitam de meia noite a uma da manhã). Poderia ser uma maneira de enquadrar A voz do Brasil à realidade das emissoras. Obrigar uma rádio a usar seu horário nobre para transmití-lo é complicado pois muitas delas apresentam programas de notícia, falam sobre o trânsito, transmitem jogos de futebol, divulgam eventos locais e humorísticos bem melhores. É importante dar flexibilidade para que as rádios possam preparar suas programações. A lei atual é tão engessada que não prevê que se possa suspender ou adiar o programa nem sequer em casos de calamidades públicas. Aí, durante viagens ou não, continuamos a 'dar carona' àquilo que não queremos e a conviver com as trapalhadas, mentiras, propaganda enganosa e outras formas de nos encher o saco.