domingo, 25 de junho de 2017

UMA MÃO (SUJA) LAVA A OUTRA

Tem gente que nega, mas a verdade é que o Brasil começa a viver sua mais terrível crise institucional. Os defensores dos poderes da República, que adoram dizer que as instituições funcionam, plenamente, deveriam rever seus discursos - cada vez mais vazios e injustificáveis- e reconhecer que Executivo, Legislativo e Judiciário viraram uma Torre de Babel, onde cada um fala o que quer e, pior, uma autêntica casa da mãe Joana, onde cada um faz o que quer. Muito mais perigoso, ainda, é que os únicos a sofrerem com a balbúrdia instalada em Brasília continuam sendo a verdadeira razão para a existência de mecanismos ou estruturas de ordem social, isto é, os mais de 200 milhões de infelizes brasileiros e brasileiras obrigados a cumprir inúmeras leis (de fato, somos o País das leis feitas para não serem cumpridas e da lei de Gérson), pagar a mais alta carga tributária do planeta, assistir a farra com o dinheiro público, inclusive a sustentar as caríssimas instituições "republicanas', e não verem, sequer, luz no fim do túnel uma vez que elas que deveriam dar o exemplo, fazendo valer suas prerrogativas - e obrigações -, não o fazem pois uma parece estar se lixando pra outra e que só serve para alimentar vaidades. Sem falar nas gargalhadas de um Gilmar Mendes, nos deboches de Lula e Temer em relação à Lava Jato e nas engasgadas e cara de bolacha de Rodrigo Maia, todas a sentenciar que a Justiça não é pra todos. Para dar alguns exemplos recentes de que o presidente francês Charles de Gaulle – 1959 a 1969 – tinha razão quando disse le Brésil n’est pas un pays serieux – O Brasil não é um país sério, é que medidas cautelares expedidas pelo STF têm sido descumpridas. Como duas que determinavam o afastamento do senador Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional, em dezembro do ano passado e, agora, de Aécio Neves das atividades parlamentares, ambas ignoradas. Sem falar nas 80 e tantas perguntas relacionadas ao inquérito que trata das delações premiadas feitas por executivos da empresa JBS, encaminhadas pela PF ao presidente Michel Temer, as quais mandou dizer que não responderia nenhuma e as decisões do MPF, de Rodrigo Janot que podem seguir o mesmo caminho. Como sou do tempo em que deixar de cumprir uma decisão judicial ERA crime de desobediência ou golpe de Estado, fico imaginando o que mais falta para que a assintonia e de independência entre os poderes se torne mais corriqueira e oficialize, de vez, o você manda e eu desobedeço. Caso isto aconteça (cesse) poderá(ria) chegar o dia em que a bandeira nacional será(ria) queimada na Praça dos Três Poderes e o hino substituído pela música de Cazuza, "O Tempo Não Para" que diz: “A tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos… eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para, não para, não para não”. Ainda bem que na Caixa de Pandora, chamada poderes da república (caixa alta só quando ela for proclamada), ainda resta a esperança, última a morrer.