terça-feira, 9 de agosto de 2016

VIRA-LATAS

A expressão Complexo de Vira-Latas, foi criada pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues após a desastrosa e humilhante derrota da seleção brasileira de futebol para a uruguaia em 1950, por 2 x 1, na final, em pleno Estádio do Maracanã. Dizia ele que tal sentimento de ser o vira-lata do mundo não se dava apenas no esporte, mas em várias outras áreas. “O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”, afirmava o autor de Vestido de Noiva (a culpa de nossa inferioridade era a miscigenação, pensavam Nina Rodrigues, Oliveira Viana e Monteiro Lobato). Muito tempo se passou, mas em muitos aspectos a baixa autoestima da maioria do povo justifica-se, por exemplo, pela falta de credibilidade na classe política, na fragilidade das leis e até mesmo por alguns velhos hábitos da mídia nacional que ainda insistem em reforçar o complexo (chamado de síndrome quando representa um conjunto de sinais e sintomas que define as manifestações clínicas de uma ou várias doenças e pode ter vários fatores envolvidos), entre elas tomar como fonte sempre os mesmos países, dar pouco espaço para a cultura nacional, sem falar do mínimo (quando não inexistente) ao cinema nacional e emprego de estrangeirismos para criar e proporcionar ar sofisticado a locais, eventos e programas de TV, jornalísticos e infantis. Têm, ainda, o fato de o Brasil nunca ter ganho um Oscar (melhores do cinema), um Prêmio Nobel  (como alguns hermanos, em Literatura), além da insistência internacional por não reconhecer uma das maiores invenções da Era Moderna que foi o voo pioneiro - e documentado - do 14 Bis, do mineiro - e brasileiríssimo - Santos Dumont. Aliás, com a ajudinha de boa parte da mídia tendenciosa, tem-se resultados ruins, indo da economia (nossos produtos são sempre piores que os importados, se bem que a China tá desmistificando isto), passando pela cultura (a superioridade de tudo que é falado em inglês ou que venha da Europa, seus slogans e jingles), desembocando na autoestima, onde chega-se ao Vira-Latas. Como resultado, também saem pérolas como “todo filme brasileiro é ruim ou baixaria”, “ele tem um carrão importado”, “a cultura tupiniquim” (no tom pejorativo do termo), “férias em Nova York? Que chique!” e outras imbecilidades vindas da cabeça de pessoas desinformadas ou com propósitos deliberados. Fora algumas outras, vindas de fora, que  insistem em nos apontar como inferiores ( leia-se, submissos), nos colocando numa condição quase exclusiva de país do carnaval, do samba e das mulheres (muitas vezes, nuas e fáceis) e para  onde criminosos fogem para desfrutar das 'delícias abaixo do Equador'. Mas o fato é que, independente da ignomínia a nós imposta, por exemplo, pelos governos lulopetistas e pelos inverossímeis projetos de ter acabado com a pobreza e diminuído as injustiças sociais ('tá todo mundo viajando de avião, comprando, consumindo e estudando mais', dizem fanáticos do PT e do PC do B), deixando um legado de inflação, desemprego, juros altos, além do rebaixamento pelas agências de risco, o Brasil tem uma reputação - e uma condição - invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo, exceto o lado negativo. Aí, o complexo acaba surtindo efeito. Não tem sido raro tomarmos conhecimento do brilhantismo de nossos patrícios, mundo afora, nas ciências, nas artes, nos esporte e na TV, como aconteceu, semana passada, quando cerca de dois bilhões de pessoas puderam admirar a abertura da Olimpíada do Rio. O espetáculo mostrou, apenas, um pouco do que o país é capaz, mesma capacidade que tem permitido ao povo refletir melhor sobre o que é melhor para que consiga superar dificuldades impostas e afastar qualquer viralatice. E tudo isto é feito por gente, por brasileiras e brasileiros que, juntos, podem deixar de lado complexos que pretendam deixá-los pra baixo. Basta fazer a coisa certa, começando a deixar de lado a idéia de que os outros são melhores, são mais inteligentes e parando com o papo furado de o Brasil ser inferior, muito novo ainda ou que não vai conseguir derrotar os muitos pessimistas, derrotistas, inimigos da Pátria e, claro, os criminosos que desejam continuar tendo uma população numa condição de inferioridade.