sábado, 26 de outubro de 2013

DESCULPAS ESFARRAPADAS

Em tempo de campanha - e o governo está sempre nele -, nada como evocar a figura da xenofobia, enganando, duas vezes, aqueles que vêem no Programa Mais Médicos possibilidade de cura e bom tratamento, mágico, vindo de fora. Pedir desculpas a um médico cubano, como fez a presidente Dilma, esta semana, em solenidade transmitida para todo o Brasil, além ter sido uma péssima estrategia, quase beirando a uma piada de mau gosto pelo que o programa representa, também nos ofende a todos que continuamos a ter péssimo atendimento pelo SUS e planos de saúde privados dos mais caros do planeta. Fora isso, senhora presidente, que não tem nada de humilde (haja vista a eterna cara de quem comeu e não gostou), praticamente, 200 milhões de brasileiros - inclusive, os próprios estrangeiros muito bem tratados aqui - exigem desculpas, sim, pelos baixos salários da grande maioria, pela vida miserável de aposentados, pelo assistencialismo desregrado das bolsas, pelo aumento do consumo de drogras, guerra civil que vivemos, transportes caros, caóticos e inseguros, educação sempre abaixo da média, inflação acima dos limites aceitáveis, corrupção em todo aparelho do Estado, interferência ampla, geral e irrestrita nos poderes da República - República esta que, aliás, vive um momento de quase ditadura - e pelas disfarçadas privatizações, agora, protegidas por forças de segurança coibindo estas e outras manifestações vindas das ruas. Será que Dilma Rousseff teria coragem de, um dia, vir a público, reconhecer que nos impinge tal condição em nome de interesses partidários dos quais não consegue se libertar? Será que conseguirá se desculpar com todos os brasileiros que sofrem com todos estes problemas, apesar de ser a quinta economia mundial? Ou continuará agindo como um poste, simplesmente, passando à História e o bastão para outros 'companheiros'?