terça-feira, 26 de maio de 2009

SEM EQUÍVOCOS

Acabo de receber, por e-mail, convite para um evento denominado “de oposição”. Sabendo distinguir bem as coisas, primeiro agradeço lisonjeado a lembrança e, depois, aproveito o tema para refletir um pouco mais sobre os equívocos que ocorrem no Brasil em se tratando de ideologia, regimes políticos e meu próprio posicionamento em relação a tudo isto. Aparentemente tão triviais, oposição, situação, esquerda e direita ainda geram conceitos muito polêmicos e, como falei, podem suscitar equívocos, principalmente quando há intenção deliberada. Fazendo um estudo mais profundo sobre o tema, percebo um óbvio não tão óbvio; e o trivial não tão trivial. Concluo que se até intelectuais fazem confusão — propositadamente ou não — com a definição desses termos, imaginem no seio das camadas populares, geralmente pouco afeitas a digressões teóricas. Iniciemos, então, pela definição dos conceitos. Oposição não é sinônimo de esquerda e nem tampouco situação é sinônimo de direita. Oposição e situação são posicionamentos políticos em relação a uma situação concreta, enquanto que esquerda e direita são posicionamentos ideológicos, em torno de ideias, programa e plataforma. A plataforma histórica da esquerda tem por base mudanças de caráter progressista (reforma agrária, saúde e educação pública, melhor distribuição de renda, emprego, redução da jornada de trabalho, habitação popular e combate à corrupção, dentre outras), enquanto que a plataforma da direita tem cunho conservador, reacionário, e se orienta por um programa oposto a esse enunciado da esquerda. Assim, quem está no governo, dirigindo um sindicato ou um clube de futebol, está politicamente na situação. Ideologicamente pode ser de esquerda ou de direita. Aqueles que, por razões distintas, não integram e nem apóiam esse "establishment", estão politicamente na oposição, que igualmente pode ser de esquerda ou de direita. Se a situação for de esquerda, a sua oposição será invariavelmente de direita, salvo situações específicas. A motivação para fazer oposição, por conseguinte, pode ser de natureza política ou ideológica. A oposição política é motivada por interesses políticos imediatos (desgastar o governo ou pressioná-lo ,por exemplo, para viabilizar interesses do grupo contrariado) e não significa que esses "opositores" discordem, necessariamente, do programa ideológico do governo ou do grupo contra o qual movem a oposição. A oposição ideológica é aquela motivada por divergências com o programa, com as idéias fundamentais de um determinado governo ou grupo. Sendo assim, a despeito de qualquer conotação que se possa dar ao referido encontro – do qual, infelizmente, não participarei – considero que o mesmo deva ser uma boa oportunidade para reflexão e amadurecimento de ações, com os quais vou concordar, sempre, aguardando, ansioso, outro convite para que possa manter o direito de expressar minha opinião.