sábado, 14 de fevereiro de 2009

NINHO VAZIO

Os instantes de redescoberta, quando parte da vida se foi na criação dos filhos e eles tomam outros rumos, menos os que se imaginava, pontuam o novo filme do argentino Daniel Burman. O escritor de meia idade, Leonardo (Oscar Martinez) custa a preencher o vazio que se estabelece depois que eles se foram, diferente da mulher Martha (Cecília Roth), que volta à faculdade para terminar o curso deixado pela metade, para cuidar dos filhos. Ele, em princípio, perambula com ela em encontros com amigos ou se enfurna em casa às voltas com tentativas de escrever um novo livro. Algo, no entanto, se foi; a vida como ele a vivia antes precisa de um novo impulso, e ele procura manter contato com os filhos entregues à sua própria construção cotidiana ou tenta criar novos liames com novos amigos, o que o leva a andar em círculos. Inclusive projetar relações amorosas com uma mulher idealizada, distante de um padrão atual, mais ao estilo das mostradas por François Truffaut (“Beijos Proibidos”) em seus filmes. É com estes pequenos incidentes que Burman (“Abraço Partido”/”Direito de Família”) constrói seu filme, detendo-se mais no interior dos personagens do que em sua relação com o que os cerca. Quando o faz é por certo tempo, sutilmente, como se isto não importasse para os rumos que a vida de Leonardo, principalmente, toma. É quando o vemos, por exemplo, na faculdade onde dá aulas, na tentativa de escrever anúncios publicitários e ao visitar o genro em Israel e, por uns instantes, flagra a metralhadora num canto da sala ou as conversas com o neurologista-pesquisador. No mais, ele, Leonardo permanece fechado em seu mundo, pouco importando com o fluxo da existência para além de seus impasses, que não são apenas os do desgarrar dos filhos, mas também o que acompanha suas consequências, iguais à crise da meia-idade e à distante relação com a mulher. Uma boa pedida.